O que sinto saudade nos cigarros

Aos treze anos segurei meu primeiro cigarro. Aos catorze comecei a tragá-los. Aos quinze, cheguei ao ápice de dois maços por semana. Eu resolvi parar quando em uma festa de rua, um conhecido me falou que aquilo não era cool, que uma hora a onda ia passar e eu ia me arrepender de ter começado. 
Esse menino era mais descolado que eu, numa fase em que meu sonho era ser indie. Agradeço por ser meio idiota na época e por ainda não estar bêbado o suficiente para lembrar os detalhes da cena. No dia eu continuei fumando, por pouco não cheirei com as meninas que eu e minha amiga estávamos beijando. Mas aquilo ainda ia me matutar, e eu não demoraria a largar os cigarros.

Por que comecei a fumar tanto.

Quando eu estava fumando sozinho em uma praça ou na praia, era como se eu tivesse num momento apenas meu. Os cigarros foram minha rotina no ano mais pesado da minha vida. Eu chorava todas as semanas em casa; e passava quase todas as tardes sozinho em algum canto da Barra ou da Zona Sul. Nos momentos que eu estava sozinho, o cigarro era me ajudava a mergulhar em mim, era como se eu conseguisse observar meu corpo por dentro. Ele representava na época também minha rebeldia. Imagina só, um menino com roupa de colégio, de cara lisa, fumando. E a cereja do bolo, abaixava a pressão de uma forma bem oportuna.

Mas por fim, o que eu sinto falta neles.

Hoje não vivo nada nem perto do inferno que eu vivia e não existe mais rebeldia em tragar um cigarro aos 18 anos. Mas sinto falta de como esse ato tornava meus momentos sozinhos mais longos, mais meus. Observar meus movimentos, e estar também em movimento, mesmo que parado, pensando, ouvindo musica.

Do final dos quinze anos até hoje, eu transformei minha vida em algo bem perto do que eu sonhava. As amizades que fiz, saídas noturnas intensas e frequentes, coisas que experimentei, sexos, risadas e momentos leves com sol e boa companhia. Abandonei o cigarro porque o vício dele parecia trazer mais desvantagens que prazer. Mas ainda assim, sinto falta dele nesses momentos que estou só comigo, e também quando estou no segundo copo de cerveja.

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